Escrevendo, acabo chegando aos outros e descobrindo o prazer de falar só e para muitos ao mesmo tempo. É impossivel falar de risos e lágrimas sem improvisos, e escrevê-los sem reflexão. Espero que o extremo de mim mesma deixado aqui, ajude de alguma forma, a vocês leitores e amigos, entenderem até os sentimentos mais vagos e sufocadores.Aqui, falarei sem ser interrompida por ninguém, e terei o prazer de falar, calar-me, gritar e não deixar ruídos...Sob saltos, é claro!!

domingo, outubro 10, 2010

Um dia eu crio juizo...

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sobremesa, contar os minutos até ela chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente um pedacinho minúsculo do meu doce preferido.
Um só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar várias caixas de bombom e potes de sorvete e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
A sobremesa é só um exemplo do que tem sido meu cotidiano.

A minha vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. Saio pra jantar, mas como pouco. Vou à festas ,mas resisto aos bombons.
Conquistei a chamada liberdade sexual, mas tenho que fingir que sou difícil
(a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil', e eu estou entre elas).
Adoro tomar um banho demorado, mas me contenho pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quero beijar aquele cara até esquecer de tudo, mas tenho medo de me envolver.
Tenho vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada na minha cama, mas me obrigo a levantar.

E por aí vai...

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar “recuperação dela”...
Aí a vida vai ficando politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tempero...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a meu respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Eu, que não aspiro à santidade e estou aqui de passagem, posso (devo?) desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados em quem eu quiser dar, a água batendo sem pressa no meu corpo, o meu coração saciado.
( Não necessariamente nessa ordem.)
Depois eu vejo o que fazer para consertar o estrago . .

Um dia eu crio juízo.
Um dia...
Não tem que ser agora.