Fim de semana. Desses em que toda a família resolve se reunir... tios discutem futebol, alguns primos ficam na piscina, outros perto dos pais, jogando truco e dando pitacos no assunto. As mulheres ficam pela cozinha e sala...algumas trocam receitas e comentam sobre aqueles agregados ocasionais, namorados de sobrinhas e amigos da família.
Eu, pela primeira vez, resolvi reparar como a minha família era previsível... afinal, já sabia que logo sairia a mesma carne de sempre da churrasqueira, os mesmos pratos da cozinha e até os assuntos seriam parecidos. Mas, isso não faz de minha família menos divertida ou animada, pelo contrário.
Começei a observar uma pessoa em especial...uma “agregada” por assim dizer. Esposa de um primo. Lá estava ela, com a mesma atitude nada sociável de sempre, a sua cara é de enterro. Quieta, olhava para a parede como se procurasse ali a resposta para as perguntas de sua cabeça. Com certeza, ela martelava “o que estou fazendo aqui?”.
De soslaio, flagrei minha tia, que no papel de sogra é implicada e boa víbora, embora seja um amor de pessoa, e ao observar a cena, ela comentava : “ Olha essa menina. Nunca está satisfeita com nada. Vive com essa cara. Tinha tudo para ser feliz. Dinheiro,Marido, Saúde. O que mais ela pode querer?”
Cena comum também, afinal nada é tão fácil quanto resumirmos a vida de outra pessoa e achar que ela não pode querer nada mais. Fulana é linda, jovem e tem um corpaço, o que mais ela quer? Sicrana ganha rios de dinheiro, é valorizada no trabalho e vive viajando, o que é que lhe falta?
Imaginei a agregada levantando e dizendo, talvez o que eu gostaria de dizer.Imagine que nada clichê seria se ela confessasse que quer muito mais. Que quer não ter nenhuma condescendência com o tédio, não ser forçada a aceitá-lo na rotina como um inquilino inevitável. A cada manhã, exigindo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.
Se ela dissesse que o grande problema da vida prática e sensata é que rouba o direito ao desatino, e que a frustração da maturidade é o conformismo. E que o comportamento dela é apenas prova de que não tem nem medo, nem vergonha de desejar.Acho que isso sim seria motivo para texto. Ela seria incrível, e eu viraria sua fã.